na USP
Diego foi aprovado pela segunda vez na USP, onde
cursou
engenharia.
Após estudar a vida inteira em escolas públicas, começa novo curso.
Laura Lewer - Do G1, em São Paulo
Diogo e seu pai |
Engenheiro civil recém-formado, o vestibulando que
conquistou o primeiro lugar no vestibular de medicina da Universidade de São
Paulo (USP) em 2016, tem motivos para se
orgulhar da trajetória e para não se preocupar com ternos, jalecos e afins.
Basta um cliente entrar na oficina de Ildo da Silva, de 59 anos, pai de Diego Ohara Silva, de 29 anos, que o alfaiate conta as novidades, que segundo ele, o fizeram chorar. “O coração não aguentou”, lembra o pai emocionado. Ildo se orgulha em dizer que vai fazer as roupas de trabalho do filho. “Vai ser o médico mais bem vestido de São Paulo”, afirma.
Basta um cliente entrar na oficina de Ildo da Silva, de 59 anos, pai de Diego Ohara Silva, de 29 anos, que o alfaiate conta as novidades, que segundo ele, o fizeram chorar. “O coração não aguentou”, lembra o pai emocionado. Ildo se orgulha em dizer que vai fazer as roupas de trabalho do filho. “Vai ser o médico mais bem vestido de São Paulo”, afirma.
O alfaiate conta que seu principal ensinamento para
Diego foi de que as conquistas são resultado de processos. “É como plantar uma
árvore, adubar e colher os frutos. Fazer o trabalho bem feito”, resume o
alfaiate. O filho brinca que, se dependesse da quantidade de vezes que ouviu
falar dessas árvores, trocaria a medicina por engenharia agronômica.
Mas foi outra a engenharia inicialmente escolhida
por Diego Ohara depois de anos de ensino público e muita dedicação para
recuperar deficiências no ensino. Tanto que Ohara conta que não sabia da
existência da USP (onde inicia em fevereiro a caminhada para o segundo diploma)
até sair da escola, em 2003.
Trajetória no ensino público
Ohara, que estudou até o fim do ensino médio em escolas públicas, não tinha ideia de que faculdades também poderiam ser gratuitas e ninguém nunca o avisou.
“Quando você faz escola pública, ninguém te encaminha para um vestibular e te incentiva. No meu último ano, a professora falou que a gente tinha que estudar porque existiam as escolas técnicas. Eles nem cogitam a possibilidade de a pessoa fazer uma faculdade”, diz.
Ohara passou por três escolas públicas durante sua formação. Começou em uma municipal na Zona Sul, foi para uma estadual na Zona Norte e cursou o último ano do Ensino Médio, em 2003, em uma escola na região central. Em seguida, emendou a formação em um curso técnico de administração, que ele “curtia, mas não abriu muitas portas”.
Ohara, que estudou até o fim do ensino médio em escolas públicas, não tinha ideia de que faculdades também poderiam ser gratuitas e ninguém nunca o avisou.
“Quando você faz escola pública, ninguém te encaminha para um vestibular e te incentiva. No meu último ano, a professora falou que a gente tinha que estudar porque existiam as escolas técnicas. Eles nem cogitam a possibilidade de a pessoa fazer uma faculdade”, diz.
Ohara passou por três escolas públicas durante sua formação. Começou em uma municipal na Zona Sul, foi para uma estadual na Zona Norte e cursou o último ano do Ensino Médio, em 2003, em uma escola na região central. Em seguida, emendou a formação em um curso técnico de administração, que ele “curtia, mas não abriu muitas portas”.
O ensino público é muito defasado. Comecei
estudando do zero para o vestibular porque não sabia acentuar uma palavra. O
pessoal ficava brincando que eu escrevia em inglês"
Diego Ohara, de 29 anos
Foi um professor da escola técnica que falou da
USP. Diego então fez o cursinho popular criado por alunos da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP),
mas não conseguiu passar no curso de economia.
“O ensino público é muito defasado. Comecei estudando do zero para o vestibular porque não sabia acentuar uma palavra. O pessoal ficava brincando que eu escrevia em inglês”, conta.
Tentou outro vestibular e foi aprovado em engenharia civil na USP, em 2009. Ao se formar, no entanto, já sabia que não queria trabalhar na área após uma experiência de estágio em uma empresa do ramo foi frustrante.
“Vi que trabalhava muitas horas para gerar um lucro que não rendia nenhum bem social. Não queria trabalhar para alguém ganhar dinheiro”, explica.
“O ensino público é muito defasado. Comecei estudando do zero para o vestibular porque não sabia acentuar uma palavra. O pessoal ficava brincando que eu escrevia em inglês”, conta.
Tentou outro vestibular e foi aprovado em engenharia civil na USP, em 2009. Ao se formar, no entanto, já sabia que não queria trabalhar na área após uma experiência de estágio em uma empresa do ramo foi frustrante.
“Vi que trabalhava muitas horas para gerar um lucro que não rendia nenhum bem social. Não queria trabalhar para alguém ganhar dinheiro”, explica.
Medicina
Diego Ohara acabou tendo a atenção despertada para outra atividade que havia iniciado em 2010. Depois de fazer o cursinho da FEA, passou a dar aulas de ciências exatas para jovens como ele e viu que não queria mesmo trabalhar como engenheiro. “Pensei ‘você vai ficar fazendo isso pro resto da sua vida?’. Não entreguei um currículo quando me formei”, diz Diego, que atualmente dá aulas particulares.
Segundo ele, precisava “fazer algo bom, que gostasse, ajudasse sua família, amigos e gerasse um bem social e financeiro”. Decidiu estudar para ser médico.
Com a base de exatas
do curso de engenharia, investiu nas matérias em que sabia que teria
dificuldades e conseguiu uma bolsa no cursinho Poliedro. “Assistia aulas de
português, biologia, geografia. Tinham aulas de exatas em que eu sabia bem o
conteúdo e usava esse tempo para estudar outras coisas”, diz o estudante.Diego Ohara acabou tendo a atenção despertada para outra atividade que havia iniciado em 2010. Depois de fazer o cursinho da FEA, passou a dar aulas de ciências exatas para jovens como ele e viu que não queria mesmo trabalhar como engenheiro. “Pensei ‘você vai ficar fazendo isso pro resto da sua vida?’. Não entreguei um currículo quando me formei”, diz Diego, que atualmente dá aulas particulares.
Segundo ele, precisava “fazer algo bom, que gostasse, ajudasse sua família, amigos e gerasse um bem social e financeiro”. Decidiu estudar para ser médico.
Para ele, não há receita fácil, mas o principal é o vestibulando identificar quais temas e disciplinas são seus pontos fracos e investir tempo de estudo neles. De alguma forma, lembra o conselho do pai alfaiate: encontrar a semente certa, plantar e cuidar bastante para ter chance de frutos.
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