Jota Parente - A incapacidade demonstrada pelo
governo da prefeita Eliene Nunes para administrar o lado político que é
fundamental para uma vida saudável, ou muitas vezes, para um político ou um
grupo conseguir sobreviver às intempéries da política é impressionante. Sem um
articulador de respeito capaz de transitar com desenvoltura em todas as
correntes partidárias, quanto mais o governo se mexe, mais se atola. Isso,
atendo-me apenas às questões políticas, deixando para outra ocasião tratar dos
problemas administrativos, que são muitos.
Nenhum chefe de Poder Executivo
consegue atender a tudo que os eleitos para o legislativo querem. Atender sua
base política é um constante exercício de equilíbrio que requer paciência e
capacidade de liderança, aliado a uma grande dose de bom senso para evitar
fazer coisas que não deve, pelas quais responderá mais tarde diante dos
tribunais.
Quando Wirland Freire foi prefeito
de Itaituba pela primeira vez, gravei na minha mente uma conversa que ele teve
dentro do seu gabinete, com um dos seus secretários, o ex-prefeito Tibiriçá
Santa Brígida Cunha, conversa essa presenciada por mim e pelo então
vice-prefeito Djalma Freire. Colega, disse
Tibiriçá, nessa cadeira na qual você está
sentado, eu já estive. Quando termina o mandato, a gente fica sozinho. Só
aparecem aqueles amigos que nos visitavam antes da gente chegar ao poder.
Dois longos anos se passaram depois
de 31 de dezembro de 1996, quando terminou o mandato de Wirland. Um dia,
estando apenas ele e eu conversando em seu quarto, onde ele gostava de receber
as pessoas, ele se lembrou daquela conversa. “Parente, tu te lembras do que o
Tibiriçá me falou naquele dia no gabinete”, perguntou ele. Eu respondi que me
lembrava perfeitamente do diálogo. “Pois é, ele estava certo”, disse WF.
Não custa lembrar que o Wirland foi
uma grande liderança, tanto empresarial, como política, coisa que a prefeita
Eliene Nunes não é. Ao contrário, pois em vez de construir um forte grupo
político, ela trabalhou na desconstrução do grupo que a elegeu, virando as
costas para quase todos que gastaram sola de sapato porque acreditavam no seu
projeto.
A ausência de uma coordenação
política ficou ainda mais patente quando se falou na possibilidade de ser
criada uma CPI para apurar denúncias de irregularidades no uso da verba do
Fundeb. Existia uma grande insatisfação entre alguns vereadores que embora se
sentindo preteridos pela gestora, ainda continuavam se considerando de sua base
de apoio. Três deles tentaram conversar com ela sobre a exclusão unilateral do
vereador Orismar Gomes (PPS), e ela respondeu que não conversaria com grupo; só
atenderia individualmente. Foi a gota d’água. Daí para se chegar aos oito que
assinaram o requerimento da CPI foi um pulo.
Eliene apostou no confronto com a
Câmara, e de novo apostou errado, porque somente ela tem a perder, nesse caso,
pois os indícios de problemas nas questões que estão sendo levantados pela CPI
são muito fortes. Sem um articulador capaz de tentar apagar o fogo que já
estava em labaredas altas, ela piorou as coisas jogando gasolina em vez de
água, não autorizando a ida de assessores convocados.
A única pessoa que no começo do
governo poderia cuidar da articulação política com maestria, por ser um politico
experiente e respeitado por todos, aliados ou adversários, foi o ex-vereador
César Aguiar, que abdicou de uma candidatura a prefeito, convencido pelo
ex-prefeito Roselito Soares. Ele assumiu a chefia de gabinete, onde não chegou
a completar nem cinco meses. Desiludido, depois de sentir que nada poderia
fazer, e de concluir que tinha dado um tiro no pé ao decidir não ser candidato,
César, que é advogado, cuidou de inventar um curso de atualização em Santarém
para sair de fininho. Hoje, ele descarta sair candidato a qualquer cargo
político, tal foi sua decepção.
Sem um norte político porque sua
bússola quebrou, não dá para imaginar onde a prefeita Eliene Nunes deseja
chegar com esse comportamento. E nesse cabo de guerra com a CPI, alguém vai
sair muito machucado, pois já se chegou a um ponto em que nenhum dos dois lados
parece querer ceder um milímetro. Se os vereadores da oposição, que hoje são
maioria fraquejarem, eles sairão muito mal, com conceito ainda mais baixo do
que já tem junto aos olhos da população. Caso seja a administração que se
arrebente, Eliene terá pouco tempo para tentar reverter o quadro político
diante de uma popularidade que só faz despencar. E nesse jogo não haverá
empate.
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