segunda-feira, maio 18, 2015

CPI x Eliene: nessa guerra não vai haver empate

           Jota Parente - A incapacidade demonstrada pelo governo da prefeita Eliene Nunes para administrar o lado político que é fundamental para uma vida saudável, ou muitas vezes, para um político ou um grupo conseguir sobreviver às intempéries da política é impressionante. Sem um articulador de respeito capaz de transitar com desenvoltura em todas as correntes partidárias, quanto mais o governo se mexe, mais se atola. Isso, atendo-me apenas às questões políticas, deixando para outra ocasião tratar dos problemas administrativos, que são muitos.
            Nenhum chefe de Poder Executivo consegue atender a tudo que os eleitos para o legislativo querem. Atender sua base política é um constante exercício de equilíbrio que requer paciência e capacidade de liderança, aliado a uma grande dose de bom senso para evitar fazer coisas que não deve, pelas quais responderá mais tarde diante dos tribunais.
            Quando Wirland Freire foi prefeito de Itaituba pela primeira vez, gravei na minha mente uma conversa que ele teve dentro do seu gabinete, com um dos seus secretários, o ex-prefeito Tibiriçá Santa Brígida Cunha, conversa essa presenciada por mim e pelo então vice-prefeito Djalma Freire. Colega, disse Tibiriçá, nessa cadeira na qual você está sentado, eu já estive. Quando termina o mandato, a gente fica sozinho. Só aparecem aqueles amigos que nos visitavam antes da gente chegar ao poder.
            Dois longos anos se passaram depois de 31 de dezembro de 1996, quando terminou o mandato de Wirland. Um dia, estando apenas ele e eu conversando em seu quarto, onde ele gostava de receber as pessoas, ele se lembrou daquela conversa. “Parente, tu te lembras do que o Tibiriçá me falou naquele dia no gabinete”, perguntou ele. Eu respondi que me lembrava perfeitamente do diálogo. “Pois é, ele estava certo”, disse WF.
            Não custa lembrar que o Wirland foi uma grande liderança, tanto empresarial, como política, coisa que a prefeita Eliene Nunes não é. Ao contrário, pois em vez de construir um forte grupo político, ela trabalhou na desconstrução do grupo que a elegeu, virando as costas para quase todos que gastaram sola de sapato porque acreditavam no seu projeto.
            A ausência de uma coordenação política ficou ainda mais patente quando se falou na possibilidade de ser criada uma CPI para apurar denúncias de irregularidades no uso da verba do Fundeb. Existia uma grande insatisfação entre alguns vereadores que embora se sentindo preteridos pela gestora, ainda continuavam se considerando de sua base de apoio. Três deles tentaram conversar com ela sobre a exclusão unilateral do vereador Orismar Gomes (PPS), e ela respondeu que não conversaria com grupo; só atenderia individualmente. Foi a gota d’água. Daí para se chegar aos oito que assinaram o requerimento da CPI foi um pulo.
            Eliene apostou no confronto com a Câmara, e de novo apostou errado, porque somente ela tem a perder, nesse caso, pois os indícios de problemas nas questões que estão sendo levantados pela CPI são muito fortes. Sem um articulador capaz de tentar apagar o fogo que já estava em labaredas altas, ela piorou as coisas jogando gasolina em vez de água, não autorizando a ida de assessores convocados.
            A única pessoa que no começo do governo poderia cuidar da articulação política com maestria, por ser um politico experiente e respeitado por todos, aliados ou adversários, foi o ex-vereador César Aguiar, que abdicou de uma candidatura a prefeito, convencido pelo ex-prefeito Roselito Soares. Ele assumiu a chefia de gabinete, onde não chegou a completar nem cinco meses. Desiludido, depois de sentir que nada poderia fazer, e de concluir que tinha dado um tiro no pé ao decidir não ser candidato, César, que é advogado, cuidou de inventar um curso de atualização em Santarém para sair de fininho. Hoje, ele descarta sair candidato a qualquer cargo político, tal foi sua decepção.
            Sem um norte político porque sua bússola quebrou, não dá para imaginar onde a prefeita Eliene Nunes deseja chegar com esse comportamento. E nesse cabo de guerra com a CPI, alguém vai sair muito machucado, pois já se chegou a um ponto em que nenhum dos dois lados parece querer ceder um milímetro. Se os vereadores da oposição, que hoje são maioria fraquejarem, eles sairão muito mal, com conceito ainda mais baixo do que já tem junto aos olhos da população. Caso seja a administração que se arrebente, Eliene terá pouco tempo para tentar reverter o quadro político diante de uma popularidade que só faz despencar. E nesse jogo não haverá empate.

            

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