O município de Itaituba tem sido
surrupiado há décadas, por meio da exploração de suas riquezas naturais, tanto
por milhares de pessoas que tiveram ou tem como único interesse, construir ou
aumentar seu patrimônio, ou pela União, que tem se beneficiado dessa
exploração, sobretudo do ouro, em detrimento da população itaitubense.
No começo da década de 1980, foi dos
garimpos do Tapajós que saíram toneladas de ouro para aumentar o lastro do
Banco Central do Brasil, no auge de uma grande crise da economia brasileira. Naquele
tempo e por mais alguns anos, o ouro foi a reserva monetária mais utilizada
para esse fim, tendo sido fundamental a produção aurífera desta região.
As reservas conhecidas do Brasil
(medidas + indicadas) de ouro em subsolo, segundo dados preliminares do
Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), atingiram 1.900 toneladas em
1997, o que torna o país o sexto maior em reservas de ouro em nível global,
participando com o equivalente a 4,15% das reservas mundiais do metal.
A
produção primária brasileira de ouro vem declinando continuamente nos últimos
anos. O total produzido, que em 1994 atingia cerca de 78 t, decresceu em média
6,7% a.a., chegando em 1998 a apenas 55 t, segundo números mais otimistas
divulgados pela Associação Nacional do Ouro e Câmbio (Anoro). O DNPM estimou a
produção nacional de ouro em 49 toneladas para 1998. No mesmo período de
1994/98, a produção das minas em nível mundial cresceu 2,9% a.a. Com isso, a
produção do país caiu para a 12ª posição no ranking mundial apresentado pelo
GFMS para 1998, representando apenas 2% da produção internacional.
O
auge do ouro no Brasil, diferentemente de outros países, baseou-se nos
garimpos, que responderam por até 90% da produção na década de 80. Em 1988, o
país produziu o máximo de 113 t, colocando-se como o quinto produtor mundial.
Desde então, sua produção vem caindo seguidamente, em virtude da retração
natural da produção garimpeira e da incapacidade das empresas em substituir o market share abandonado pela
informalidade. O desenvolvimento da produção industrial brasileira de ouro se
efetivou de forma lenta a partir do fim dos anos 80 e, nos anos seguintes,
pouco contou com investimentos privados externos, baseando-se quase que
exclusivamente no esforço do setor público.
Foi
exatamente nesse período que se verificou uma brusca queda na produção de ouro
nesta região, com consequências
terríveis na economia de Itaituba e demais municípios da região sudoeste do
Estado e mesmo em Santarém, que embora nunca tenha tido uma só mina de ouro,
beneficiou-se grandemente do ciclo do metal precioso, talvez mais do que
Itaituba, porque na Pérola do Tapajós, muitos garimpeiros, ou empresários de
setores ligados à sua produção investiram bastante na área da construção civil,
mandando construir, ou comprando imóveis prontos, assim como em fazendas, além
dos benefícios causados ao comércio daquele município.
Tem
gente que vira o beiço quando alguém afirma que ficou muito pouco do grande
ciclo do ouro para Itaituba. É claro que ficou alguma coisa, por que houve quem
fizesse alguns investimentos em fazendas, por exemplo, que mais tarde viriam a
transformar este município em um exponencial da produção de gado de grande
qualidade, granjeando o respeito tanto em todo o Pará, quanto muito além das
nossas divisas. Excetuando isso, o que mais pode ser atribuído à montanha de
dinheiro movimentada pelo ouro que saiu das minhas do Tapajós? O crescimento
desordenado da cidade, que se espraiou da margem do rio Tapajós para a
periferia? As elevadas taxas de desemprego, engrossadas pelos milhares de
garimpeiros que perderam seu trabalho quando o ouro de aluvião começou a ficar
cada vez mais escasso a partir do final da década de 1980?
De
acordo com o geólogo Sérgio Aquino, em entrevista concedida ao Jornal do Comércio,
ano passado, a produção de ouro tem tempo previsto para acabar. Pelo menos da
forma produtiva como ainda acontece hoje, apesar dos custos da produção terem
crescido muito. Conforme Sérgio, que é uma autoridade reconhecida e respeitada
no assunto, dentro de dez ou quinze anos, dependendo da intensidade com que se
processe a exploração, as nossas reservas de ouro do Tapajós estarão exauridas.
Itaituba
continua muito dependente da produção de ouro. Passa-se o período chuvoso do
inverno amazônico esperando que a chuva cesse para que o ouro volte a circular
no comércio local para melhorar o humor da economia. Ninguém se dá ao trabalho
de discutir a geração de outras matrizes econômicas que possam dar sustentação
à nossa economia. E enquanto isso não acontecesse, estamos caminhando para ser
os futuros órfãos do ouro, porque nos seguramos nele como nossa única opção
econômica, como sele ele nunca fosse acabar. Isso poderá nos custar muito caro.
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