segunda-feira, maio 18, 2015

A nossa eterna dependência do ouro

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            O município de Itaituba tem sido surrupiado há décadas, por meio da exploração de suas riquezas naturais, tanto por milhares de pessoas que tiveram ou tem como único interesse, construir ou aumentar seu patrimônio, ou pela União, que tem se beneficiado dessa exploração, sobretudo do ouro, em detrimento da população itaitubense.
          No começo da década de 1980, foi dos garimpos do Tapajós que saíram toneladas de ouro para aumentar o lastro do Banco Central do Brasil, no auge de uma grande crise da economia brasileira. Naquele tempo e por mais alguns anos, o ouro foi a reserva monetária mais utilizada para esse fim, tendo sido fundamental a produção aurífera desta região.
            As reservas conhecidas do Brasil (medidas + indicadas) de ouro em subsolo, segundo dados preliminares do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), atingiram 1.900 toneladas em 1997, o que torna o país o sexto maior em reservas de ouro em nível global, participando com o equivalente a 4,15% das reservas mundiais do metal.
A produção primária brasileira de ouro vem declinando continuamente nos últimos anos. O total produzido, que em 1994 atingia cerca de 78 t, decresceu em média 6,7% a.a., chegando em 1998 a apenas 55 t, segundo números mais otimistas divulgados pela Associação Nacional do Ouro e Câmbio (Anoro). O DNPM estimou a produção nacional de ouro em 49 toneladas para 1998. No mesmo período de 1994/98, a produção das minas em nível mundial cresceu 2,9% a.a. Com isso, a produção do país caiu para a 12ª posição no ranking mundial apresentado pelo GFMS para 1998, representando apenas 2% da produção internacional.
O auge do ouro no Brasil, diferentemente de outros países, baseou-se nos garimpos, que responderam por até 90% da produção na década de 80. Em 1988, o país produziu o máximo de 113 t, colocando-se como o quinto produtor mundial. Desde então, sua produção vem caindo seguidamente, em virtude da retração natural da produção garimpeira e da incapacidade das empresas em substituir o market share abandonado pela informalidade. O desenvolvimento da produção industrial brasileira de ouro se efetivou de forma lenta a partir do fim dos anos 80 e, nos anos seguintes, pouco contou com investimentos privados externos, baseando-se quase que exclusivamente no esforço do setor público.
Foi exatamente nesse período que se verificou uma brusca queda na produção de ouro nesta região, com  consequências terríveis na economia de Itaituba e demais municípios da região sudoeste do Estado e mesmo em Santarém, que embora nunca tenha tido uma só mina de ouro, beneficiou-se grandemente do ciclo do metal precioso, talvez mais do que Itaituba, porque na Pérola do Tapajós, muitos garimpeiros, ou empresários de setores ligados à sua produção investiram bastante na área da construção civil, mandando construir, ou comprando imóveis prontos, assim como em fazendas, além dos benefícios causados ao comércio daquele município.
Tem gente que vira o beiço quando alguém afirma que ficou muito pouco do grande ciclo do ouro para Itaituba. É claro que ficou alguma coisa, por que houve quem fizesse alguns investimentos em fazendas, por exemplo, que mais tarde viriam a transformar este município em um exponencial da produção de gado de grande qualidade, granjeando o respeito tanto em todo o Pará, quanto muito além das nossas divisas. Excetuando isso, o que mais pode ser atribuído à montanha de dinheiro movimentada pelo ouro que saiu das minhas do Tapajós? O crescimento desordenado da cidade, que se espraiou da margem do rio Tapajós para a periferia? As elevadas taxas de desemprego, engrossadas pelos milhares de garimpeiros que perderam seu trabalho quando o ouro de aluvião começou a ficar cada vez mais escasso a partir do final da década de 1980?
De acordo com o geólogo Sérgio Aquino, em entrevista concedida ao Jornal do Comércio, ano passado, a produção de ouro tem tempo previsto para acabar. Pelo menos da forma produtiva como ainda acontece hoje, apesar dos custos da produção terem crescido muito. Conforme Sérgio, que é uma autoridade reconhecida e respeitada no assunto, dentro de dez ou quinze anos, dependendo da intensidade com que se processe a exploração, as nossas reservas de ouro do Tapajós estarão exauridas.

Itaituba continua muito dependente da produção de ouro. Passa-se o período chuvoso do inverno amazônico esperando que a chuva cesse para que o ouro volte a circular no comércio local para melhorar o humor da economia. Ninguém se dá ao trabalho de discutir a geração de outras matrizes econômicas que possam dar sustentação à nossa economia. E enquanto isso não acontecesse, estamos caminhando para ser os futuros órfãos do ouro, porque nos seguramos nele como nossa única opção econômica, como sele ele nunca fosse acabar. Isso poderá nos custar muito caro.

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