A obra da hidrelétrica de São Luiz
do Tapajós está a caminho. Esse é o recado que o governo federal manda, ao
anunciar que quer promover o leilão dessa mega construção até o final deste
ano. Isso, porque não será possível fazer o leilão até abril próximo, como
desejava, porque existem pendências relativas ao licenciamento ambiente que
precisam ser sanadas.
Houve uma mudança na estratégia de
abordagem desse delicado tema por parte do governo, deixando de lado a
arrogância e a prepotência do ex-titular da Casa Civil, Clóvis Carvalho. Seu
substituto, o ministro Miguel Rossetto utiliza-se de um tom mais moderado na
tentativa de baixar um pouco a temperatura do diálogo que estava muito elevada
e que certamente conduziria a conflitos inevitáveis, cujas consequências seriam
imprevisíveis.
Uma prova dessa nova postura do
governo foi o gesto de Miguel Rossetto de receber indígenas da etnia Munduruku,
da região do Tapajós, que embora nada tenha resolvido na prática, ao menos
demonstrou a abertura de um canal de diálogo. Partindo-se do princípio do
ditado que diz, que um mau acordo é melhor do que uma boa briga, o governo
desarma um pouco o espírito de guerra que estava prevalecendo até então.
Que ninguém se engane! O governo não
ficou bonzinho do dia para a noite. É apenas uma mudança estratégica para
tentar convencer a grande comunidade Munduruku, as igrejas que tomam posição
contrária, as ONGs, as comunidades que ficam ao longo da região do Tapajós as
quais serão diretamente afetadas por essa grande obra, e demais pessoas que
lutam contra a construção das usinas hidrelétricas na Amazônia, de que tudo vai
ser feito em concordância com todos e em obediência às leis.
Enquanto isso, tudo continua como
dantes no quartel de Abranches. O que isso quer dizer? Quer dizer que em
Itaituba as coisas continuam exatamente como sempre estiveram, em relação à
discussão desse empreendimento, na estaca zero, porque o comunidade itaitubense
tem-se mostrado apática para tratar de uma questão tão relevante, que vai lhe
causar um enorme impacto.
Daqui a pouco vai chegar o governo
com seu rolo compressor, trazendo alguns espelhinhos para tentar comprar a
nossa aquiescência a esse mega projeto. E, provavelmente, nossos representantes
públicos, prefeita, vereadores e deputados vão bater palmas e soltar foguetes,
afirmando que vai ser bom para todos nós, tecendo loas aos “invasores”, assim
como acontece neste país, desde o seu descobrimento. Restaria a sociedade
civil, por meio de suas entidades organizadas nos representar, chamando o
restante da população para tomar posição, quando isso for necessário. Mas,
nossa sociedade tem olhado a tudo que acontece, de bom e de ruim sem se
manifestar.
É assustadora e ao mesmo tempo
preocupante essa letargia dos itaitubenses, da gema e de coração. Muita gente
só pensa nos lucros que acha que virão com facilidade, sem pensar nas
consequências negativas provocadas pelo grande impacto que a chegada de
milhares de pessoas vai causar em todos os setores da vida deste município. Tem
pessoas de Itaituba que quando visita Altamira, voltam deslumbradas, porque só
vê o que alguns interessados em mostrar o lado bom querem mostrar. Não se
informam sobre a verdadeira realidade, e alienados, terminam voltando com uma
visão atrofiada. Esses, em nada podem ajudar o município em que vivem.
Até agora não conseguimos aprender nada com a experiência de
Altamira, que se por um lado está ganhando algumas obras estruturantes de
grande importância para a melhoria da qualidade de vida daquela população, por outro, sofre com o atraso enorme na
implementação de tais obras, e com outros efeitos colaterais perversos, dentre
os quais o mais notório é o desenfreado aumento da violência que tem levado
aquele município a frequentar os noticiários policias e fazer parte de
relatórios negativos, nacionais e internacionais por causa disso.
Uma coisa é certa: a violência está
se antecipando, chegando a Itaituba e adjacências com muita antecedência. Basta
fazer um rápido retrospecto dos últimos acontecimentos do noticiário policial.
Os outros efeitos colaterais não tardarão a chegar, talvez, manifestando-se com
maior grau de perversidade do que ocorreu com Altamira, que discutiu a
hidrelétrica de Belo Monte por muitos anos. Nós, nem discutir a obra de São
Luiz do Tapajós conseguimos. Vamos continuar esperando que os navios dos
colonizadores aportem para levar nossas riquezas, deixando espelhinhos em
troca.
Editorial - Edição 195 do Jornal do Comércio, circulando
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