segunda-feira, novembro 24, 2014

*Jota Parente: O saldo que ficou das eleições de 5 de outubro

            Itaituba – Valmir ganhou, mas, não levou. Ganhou com a reeleição do deputado estadual Hilton Aguiar, e quando diminuiu a diferença de votos de Jatene para Helder, que no primeiro turno foi de 1.591 votos e apenas 422 no segundo turno. Ganhou mas não levou porque Helder não se elegeu governador. Logo, mesmo sem mostrar grande serviço como cabo eleitoral, quem levou a melhor foi sua adversária, a prefeita Eliene Nunes, pois a reeleição de Simão Jatene lhe dá algum fôlego para sua tentativa de continuar na prefeitura a partir de janeiro de 2017, caso dispute novamente o cargo, o que é muito provável que venha a acontecer, e como esperam seus seguidores.
            O fato do deputado Dudimar Paxiúba não ter conseguido renovar o seu mandato também representa uma grande derrota. Só, que além da derrota pessoal do deputado, ela se estende ao município de Itaituba e toda a região Sudoeste do Pará. Nunca em seus mais de 150 anos de história, a palavra Itaituba foi tantas vezes positivamente pronunciada na tribuna da Câmara Federal, pois Dudimar tem defendido por inúmeras vezes questões de interesse do município. Eu repeti diversas vezes, que Itaituba só iria saber o quanto vale um deputado federal, se perdesse Dudimar. E perdeu.
            Pará – Não é que o Pará tenha saído dividido da eleição, porque isso já aconteceu há muitas décadas. O Pará saiu ainda mais dividido do que já estava. De nada adiantou o esforço do governador Simão Jatene para tentar aplacar a ira de eleitores de diversos municípios das regiões Oeste e Sul do estado, que votaram maciçamente contra ele. Foi assim em Santarém, em Uruará, em Alenquer, em Oriximiná, em Marabá, em Parauapebas e tantos outros. O governador contemplou alguns desses municípios com muitas obras, mas, não deu resultado.
            Jatene dividiu ainda mais o estado quando se posicionou totalmente contra a criação dos estados do Tapajós e do Carajás, no plebiscito. E não cabe aqui uma análise a respeito disso, mas, da questão de uma separação que a elite de Belém promoveu há muitas décadas, pois os governantes do Pará, assim como sua elite econômica, tratam o Oeste como almoxarifado onde podem buscar a qualquer hora a matéria prima que precisam para suas indústrias, enquanto a elite política da capital vem aqui buscar os votos que precisa.
            O governador reeleito tem se mostrado vingativo quando alguém não faz os seus gostos. Na primeira entrevista que concedeu após o segundo turno da eleição, ele disse à Folha de São Paulo, que essa história de quererem dividir o estado é coisa de gente maluca e de safados. Ora, Jatene não ajudou em nada a melhorar a relação entre a parte do Pará que deseja sua autonomia política e a capital. Só piorou as coisas e dividiu ainda mais o estado. Vamos ver como ele se comporta quanto a essas regiões, quando se iniciar o segundo mandado em janeiro do ano que vem.
            Brasil – Confesso que fiquei preocupado como cidadão, nos primeiros dias após a eleição. A desconfiança que se lançou sobre o resultado do segundo turno da disputa para a presidência da República, em nada contribuiu para solidificar mais a democracia no país. Reconhecidamente, o Brasil tem um dos mais seguros sistemas eleitorais do mundo inteiro. Não é perfeito, mas, ao longo desses anos todos tem sido aprimorado e se mostrado confiável.
            Chegou a ser uma atitude irresponsável do deputado federal e advogado Carlos Sampaio, do PSDB de São Paulo, que entrou com um recurso pedindo uma auditoria completa das urnas. Felizmente, ele foi aconselhado dentro do seu próprio partido a maneirar, tendo gente graúda se apressado a declarar que o partido do candidato Aécio Neves não estava colocando em dúvida o resultado da eleição, nem a confiabilidade do sistema utilizado pelo TSE. Houve até manifestações de radicais que nada tem a ver com o PSDB, que foram para as ruas pedir a volta de ditadura. As maiores lideranças do partido declaram para a mídia que essa maluquice não contava e nem contaria com seu apoio, o que foi uma ducha de água fria nesse movimento.
            O PSDB, garantiu Aécio Neves em seu primeiro discurso após a eleição, vai fazer oposição cerrada ao governo da presidente Dilma Rousseff. E é bom que o faça, porque o primeiro mandato dela tem deixado muito a desejar. A economia do país empacou, as projeções de crescimento o PIB só fazem diminuir, o parque industrial brasileiro está sucateado, a inflação ameaça fugir ao controle, de vez em quando, e a gente vive uma situação de arrocho, com ameaça de crise braba pairando sobre nossas cabeças.
Dilma decepcionou o país ao demorar a agir contra casos gravíssimos de corrupção, alguns deles estão entre os maiores que já foram vistos na nossa história, como é o caso do escândalo da Petrobras. A presidente dá sinais de que vai ser mais ágil e vai fazer diferente no segundo mandato. E é exatamente isso que o Brasil espera dela. Quem votou em Dilma, ou em Aécio, quer mais é que ela acerte, porque é aqui que a gente vive, e torcer contra ela, é torcer contra nós mesmos.

*Publicado na edição 190, do Jornal do Comércio, que circulou quinta-feira passada

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